segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Onde Queres Fascismo, Somos Resistência

Essa manhã senti que acordava num mundo irreal, era algo dantesco. Primeiro turno das eleições brasileiras chegou ao fim e deixou um gosto muito amargo nos corações de todos nós que defendemos a democracia, pois nos mostrou que, aparentemente, mais de 40% da população brasileira é formada por pessoas que cultivam em seus íntimos racismos, misoginias, homofobias, violências inenarráveis.

As mensagens chegam de todos os lugares. Amigos firmes na esperança e também com medo. Medo que o fascismo vença. Medo de ver a nossa tão jovem democracia morrer uma morte indigna e nefasta.

Alguns eleitores do JB podem estar me lendo nesse momento e dizerem de si para consigo: é um exagero isso que ela está escrevendo! Ou então dizerem que não acreditam que o JB institua um governo fascista e ditatorial no Brasil. O que eu respondo a eles, meus queridos amigos, é que eles não entenderam nada. Absolutamente nada. Não entenderam a História do próprio país. Não entenderam a História do mundo. E, o mais grave, não compreendem que a validação de um discurso é muitas vezes mais grave e forte do que transformar aquele discurso em 'Ato Oficial' de um governo.

Quando os jovens nazistas saíam pelas ruas da Alemanha espancando e matando judeus, vocês sabe o que Hitler dizia? Nada! Isso aí, ele não dizia nada! Mas, vocês sabem porque esse jovens nazistas faziam isso? Porque eles cometiam essas violências? Porque o discurso que levou Hitler ao poder era um discurso separatistas, que culpava os judeus pela situação de grave crise pela qual a Alemanha passava; para Hitler, em seu palanque, os judeus não deveriam existir, eles eram o mal que deveria ser extirpado da sociedade. 

Ah! Mas então você está comparando o Brasil com a Alemanha nazista?!? Não, não estou (mas bem que eu poderia). O que eu estou querendo demonstrar aqui é que a palavra tem força. Não acreditam? Então me conta lá sobre os homens que dentro do metrô de São Paulo bradavam que o 'Bolso.naro ia matar viado'. Me diz aí se não é o discurso homofóbico do JB que levou esses homens a gritarem isso? A pensarem que quando o JB for eleito 'matar viado' será permitido?!? E quanto ao homem que gritou dentro de um vagão só de mulheres do metrô, tb de São Paulo,  Bolso.naro tava chegando para acabar com 'aquelas vagabundas'?!? A fala dele de que nós mulheres somos 'fraquejadas' legitima a misoginia em um país onde mais se mata mulher no mundo.. quando ele for eleito esse homem (e tantos outros) acreditarão que agora é permitido agredir, matar e maltratar as 'fraquejadas' brasileiras.  

A palavra mata, meus amigos. E as palavras desse candidato matam todos os dias. Matam quando incentivam e promovem a homofobia - o nosso país é o número 1 do mundo em assassinato de homossexuais. Matam quando incentivam e promovem a misoginia. Matam quando incentivam o racismo e o desrespeito pelos indígenas. O discurso desse candidato mata quando promove a violência. Quando ele diz que as minorias terão que se curvar às maiorias ou então terão que desaparecer.

Você que é mãe e pai, avô ou avó, que ama seus filhos e netos e vota nesse candidato, já parou para pensar que uma filha/neta sua pode vir a ser vítima desse discurso, ou vocês acham que se ela disser que votou no JB estará isenta de sofrer violência?!? E aqueles pais/avós que tem filhos/netos homossexuais e votam no JB... já pararam para pensar que a próxima vítima do discurso homofóbico do seu candidato poderá ser esse filho/neto que vocês amam?!? Chegou o momento de parar de pensar que o mal atinge apenas a casa do vizinho, porque meus queridos, o mal pode sim bater na sua porta.

Vocês se lembra do poema do Brecht?




É bem isso o que está acontecendo no Brasil. Os eleitores do JB não estão se importando com absolutamente nada nem ninguém que seja diferente deles. Alateridade, nunca ouviram falar! O problema, meus queridos, é que quando a onda vem, leva a todos! A violência social que espera ansiosa para se instalar de forma mais profunda em nossas cidades está a sorrir para vocês todos, só aguardando o momento em que vocês perceberão que ela virá por vocês também.

Entre nós, que estamos na luta contra esse futuro fascista, essa violência já chegou. Chegou na forma de xenofobia contra nós nordestinos; lá na nossa região o JB perdeu em TODOS os Estados, fomos nós, povo nordestino que ajudamos o Brasil a ter um segundo turno. Chegou quando um eleitor do Bolso.naro assassinou ontem, no interior da Bahia, com professor de capoeira negro que disse que não concordava com a postura do JB e por isso havia votado no Haddad... o resultado foi a morte; o eleitor do Bolso.naro deu 9 facadas no professor e ainda feriu seu irmão. Aqui em Lisboa, ontem, mulheres foram chamadas de vagabundas e ainda ouviram que em breve elas seriam as primeiras a 'desaparecer'... quando elas revidaram e chamaram o rapaz de fascista, sabem qual foi a resposta?!? 'Sou branco, sou hétero, sou descendente de italiano, tenho dinheiro e sou fascista sim com muito orgulho'! Então, me digam, qual será o panorama se o JB for eleito?!? Vocês acreditam mesmo que essa violência não irá se aprofundar e expandir?!? Eu, de minha parte, tenho certeza.

E aqueles que defendem o porte de arma?!? Sim, sim, eu sei... o porte é para se ter a arma em casa e não andar com ela na rua... mesmo?!? E os eleitores do JB que foram votar ontem e filmaram seu momento na urna eletrônica (o que é crime eleitoral, diga-se de passagem) com pistolas na mão ?!? E os ditos 'cristãos' que pousam para foto fazendo o gesto de um revolver com as mãos?!? Vocês acreditam mesmo que com o porte de arma liberado, essas armas ficarão sempre e somente guardadas numa gaveta dentro de casa?!? Sério que vocês acreditam nisso?!? Outra questão: e quando houver uma discussão com um vizinho ou com seu/sua companheiro/companheira e de repente alguém está armado, como será que vocês acham que tal discussão acabará?!? E quando você se distrair e o seu filho adolescente tiver um desentendimento na escola e pegar sua arma escondido e der um tiro num coleguinha?!? Ou então quando sua filha sair a noite com as amigas e for abordada por filhinhos de papai bêbados e armados, como fica?!? 

Não dá para apoiar esse candidato e hipocritamente dizer que não apoia seu discurso, pois, um é reflexo irremediável do outro. Não dá para votar num fascista acreditando que se ele não for bem muda-se daqui a quatro anos... porque, meu amigo, pode ser que daqui há quatro anos o país já esteja tão destruído que não haverá nada para mudar apenas para reconstruir. 
Eu, de minha parte, ajudarei a reconstruir com certeza, mas em minha alma e em meu coração saberei que eu fui uma das que não contribuiu para que essa reconstrução fosse necessária. Eu me posiciono! Eu tomo partido! Eu resisto! Eu amo demais o Brasil e, por isso mesmo, não compactuo com o fascismo que quer se instalar no nosso país. Não compactuo com segregacionismos. Não compactuo com intolerâncias. Não compactuo com racismo, homofobia e nem com misoginia. Não compactuo com violência. Não compactuo com a falácia de que é pelo fim da corrupção. Por isso, hoje e amanhã eu direi: #elenão! #elenunca! #elejamais! 







sábado, 29 de setembro de 2018

Ele Não, Ele Nunca, Ele Jamais!




No livro 'Caminho, Verdade e Vida', Emmanuel, através de Chico Xavier, nos diz que "jamais prescindamos da compreensão ante os que se desviam do caminho reto. A estrada percorrida pelo homem experiente está cheia de crianças dessa natureza. Deus cerca os passos do sábio, com as expressões da ignorância, a fim de que a sombra receba luz e para que essa mesma luz seja glorificada. Nesse intercâmbio substancialmente divino, o ignorante aprende e o sábio cresce."  O texto que hoje lhes trago, apesar de tratar de questões políticas e sociais, tem esse pensamento como norteador de suas linhas.

Falta apenas uma semana para as eleições brasileiras. Uma semana para decidirmos o futuro do nosso país, o nosso futuro enquanto brasileiros. Depois de 5 anos vivendo em Portugal, pela primeira vez senti o impulso de transferir meu título de eleitor e, no dia 07/10, irei exercer meu direito cidadão e votarei para Presidente, simplesmente porque no momento atual em que meu país se encontra, sob ameaça de eleger um candidato de viés fascista, eu jamais poderia me abster, jamais poderia não me posicionar. E é por essa necessidade de posicionamento que escrevo esse texto.

Dói-me imensamente ver parentes e amigos declararem voto em JB. Fico profundamente triste ao observar o posicionamento político de muitos daqueles que eu amo, porque o posicionamento político que eles defendem é o posicionamento dos intolerantes, daqueles que se alienam de seus lugares de luta e mergulham numa fantasia em que se colocam em outros patamares. São posicionamentos entristecedores porque me fala mais daquilo que eles trazem dentro de si do que do próprio candidato que eles apoiam. Fere-me perceber que eles aparentam não terem aprendido nada com suas próprias histórias pessoais e muito menos com a História do Brasil ou, quiçá, com a História mundial. Mulheres que se distanciam do discurso misógino de seu candidato. Mães e pais que concordam quando o Bolso.naro diz que era melhor um filho morto do que um filho homossexual e que homossexualidade foi falta de espancamento quando a criança era pequena. Homens que batem palmas para o discurso de que mulher deve ganhar menos e, provavelmente, nem ser contratada por uma grande empresa, porque a mulher possui o dom de gerar vida. Escutar de homens e mulheres mestiços que o negro favelado merece menos do que eles. Perceber que concordam que mulheres feias não merecem ser estupradas... e as mulheres bonitas, merecem? E que tal o apoio ao discurso que crianças que foram criadas por mães e avós são desajustadas, isso é, são desajustadas se foram criadas apenas por mães e avós pobres?


Como eu falei, observar esses posicionamentos me diz mais sobre esses eleitores do que sobre o próprio candidato. E o que eu percebo é que muitos dos que batem palmas para esses discursos excludentes e violentos acreditam que vivem em uma família 'comercial de margarina'. Aí eu me pergunto: qual família é realmente o protótipo daquelas famílias 'perfeitas' dos comerciais de margarina?!? A sua é? A minha, com certeza, está longe de sê-lo.

A minha família é enorme. Eu tenho um número incontável de primos de primeiro, segundo e terceiro graus que nem sequer conheço... e quando conseguimos juntar a maior parte da família em algum evento, sempre vejo caras novas e descubro que são filhos de um primo ou de uma prima e ali sorrio e percebo que tenho mais um parente... Dentro de uma família numerosa ( e também numa família nem tão numerosa assim) o que mais se destaca é o erro, porque, ao menos a minha família, é demasiadamente humana e todos nós cometemos erros, alguns insignificantes e outros nem tantos.

Na minha família há de tudo um pouco. Existem homens que têm um número elevado de filhos de mulheres diferentes; homens que estão casados há décadas com a mesma mulher; também há aqueles que viveram a vida tendo casos extra-conjugais ou que se divorciaram vezes sem conta; há também mulheres que há anos estão casadas com o mesmo homem; há aquelas que namoraram muito mas nunca casaram; há outras que se envolveram com homens comprometidos uma e outra vez; há os homens e as mulheres que amam pessoas do mesmo gênero que eles; há aqueles que já usaram algum tipo de entorpecente, aqueles que ainda usam e aqueles que não só os usaram/usam como também 'repassaram' para os amigos; tem também aqueles que cometeram erros maiores e passaram um tempo longe a responder por eles; tem gente de direita, gente de centro e gente de esquerda; tem mulheres guerreiras e também submissas; tem homens e mulheres íntegros e também aqueles que usam de meios um tanto escusos para atingir seus objetivos (o chamado 'jeitinho brasileiro'). Sim, como podem ver, minha família não é o protótipo dos 'comerciais de margarina', mas eu a amo profundamente e provavelmente não a trocaria por nenhuma outra. Com a minha família aprendi o poder do perdão, o poder do amor e a bênção das segundas chances, e por isso, me entristece ver que alguns dos meus parentes apoiam um candidato fascista para governar o nosso país.

Vejam bem, eu enquanto mulher, jamais me imaginarei como sendo fruto de uma 'fraquejada' dos meus pais, nem tampouco concordarei que por ter em mim a capacidade de abrigar uma vida mereço ser menosprezada ou ter uma remuneração inferior a de um homem pelo meu trabalho, ter a minha competência questionada ou em xeque apenas por ser mulher. E aqui, peço que me desculpem, mas volto novamente à minha família... na minha família, nós mulheres somos, na maioria, guerreiras. Aprendemos desde cedo que ser mulher não é fácil, que o mundo ainda está bastante povoado por homens intolerantes e machistas que gostariam mesmo era de nos ver 'descalças e grávidas' a cuidar da casa, deles e dos filhos... sem autonomia, sem direitos reais, sem vez e sem voz... e eu aprendi vendo as minhas avós e a minha mãe que o nosso papel é lutar e nunca desistir. Jamais desistir. Jamais nos calar. Jamais nos submeter. E, ao ver, primas, tias, amigas queridas, declarando voto no JB me dói fundo, me dói profundamente porque olho para elas e me questiono: onde foi parar aquela paixão por conquistar o mundo que emanava de suas falas, de seus olhos, de suas almas? Será que o auto-amor dessas mulheres que eu amo tanto se desintegrou e elas não se amam o suficiente e por isso apoiam esse candidato?!? Será que elas, em seus íntimos, se sentem realmente como cidadãs de segunda classe que não merecem o respeito que nossas ancestrais lutaram tanto para nos dar de presente?!? O que será que se passa em suas mentes e almas? Para onde foram aquelas mulheres maravilhosa que eu achava que ganhariam o mundo?!? Hoje, sinto profundamente saudades delas e o que gostaria de dizer a elas é que eu acredito nelas, que eu ainda as amo e que, esteja onde eu estiver, continuarei lutando para que elas um dia possam reavivar as mulheres lindas, guerreiras e combativas que jazem adormecidas dentro delas.


Outra coisa que me leva a rechaçar esse candidado é o fato de que ele gostaria que muitos dos meus melhores amigos e que alguns dos meus parentes não existissem. Eu tenho vários amigos que são homossexuais e tenho parentes que também o são e jamais poderia compactuar com um discurso que prega que 'é melhor ter um filho morto do que gay'. Eu amo demais os meus amigos e a minha família para bradar por aí que eu os preferiria mortos do que não vê-los inseridos nas normativas sociais do 'comercial de margarina'.

Eu tenho vários sobrinhos, e um dia quem sabe serei mãe, e em nenhum momento minha preocupação será se meus sobrinhos ou futuros filhos serão homossexuais, porque o amor não é vergonha, ao menos não deveria sê-lo. Para mim, o que me preocupa e por vezes me tira o sono é pensar que meus sobrinhos e futuros filhos possam não ser pessoas boas, que possam vir a ser seres humanos sem empatia pelo sofrimento do próximo, que possam vir a ser seres humanos desonestos, que possam vir a ser misóginos, homofóbicos e racistas, isso sim me preocupa. Mas quem eles amarão? Isso não me preocupa nem um pouco. Sabe porque? Porque o meu amor por eles não é (nem será no caso dos futuros filhos) um amor condicionado, um amor que só ama se o outro se encaixar direitinho naquilo que eu penso ser o melhor para ele, mesmo que isso o faça infeliz. Amor de pai e mãe, de tios e de avós, se estiverem subjugados a condicionantes, então, esses pais, esses tios e esses avós têm um problema emocional gravíssimo e precisarão de ajuda especializada de algum terapeuta ou psiquiatra. O amor que é condicionado não é realmente amor. Um pai ou uma mãe que diz ao filho que ele deve ser aquilo que eles querem porque senão será bem difícil amá-lo é um reflexo de dois adultos que jamais souberam o que vem a ser o AMOR. Para mim, o amor é isso: um ato de libertação do outro, é um sentimento libertador que permite que o outro nos mostre quem ele realmente é por dentro com a certeza que nenhum julgamento será feito e quando esse amor é uma via de mão dupla também nos permite a possibilidade de sermos quem somos sem medo de julgamentos quando o outro nos olhar e perceber o quanto cometemos erros, o quanto temos defeitos, o quanto somos humanos. Por isso, por amar demais todos os que estão na minha vida, eu digo não a um candidato que prega um discurso de ódio contra os LGBTQs.

Digo não também a um candidato que prega a discriminação contra os negros, sim, também tenho parentes negros... um deles, inclusive, é como o irmão que não tive... quando ele nasceu eu tinha cinco anos e era a única criança da família e tive tanto ciúmes dele que quando a mãe o ia amamentar, ele mamava em um peito dela e eu no outro... hahahaahah... e tenho uma prima que amo de paixão que também é negra... e em nenhum momento isso faz ou fez qualquer diferença para mim, eu jamais os amei menos nem tampouco os amarei menos por conta disso... jamais duvidei das capacidades deles de serem grandes profissionais e de conquistarem tudo aquilo que almejam... porque tantas pessoas ainda acham que a cor de nossa pele nos define? que a nossa sexualidade nos define? não deveria ser a nossa conduta MORAL a bússola definidora de nosso caráter?!?

Eu digo não a todos discurso de violência, digo não à uma política armamentista. Muitos perguntarão: e você acha certo um pai de família ser assassinado num assalto? Não, meus queridos, não acho certo, nunca acharei certo o assassinato de quem quer que seja. Da mesma forma não acredito que o porte de arma seja o caminho para resolver as mazelas da violência social que o nosso país vivencia. Digam-me uma coisa, se o brasileiro não tem equilíbrio emocional nem civilismo no trânsito nem nas menores coisas do seu dia a dia, vocês acreditam mesmo que armar a população é o caminho? Muito se fala do marginal favelado que mata para poder alimentar seus vícios e bradam aos quatro ventos que a polícia deveria mesmo era entrar com tudo na favela e matar todos eles ( o que a polícia do Rio de Janeiro já faz a décadas, matando culpados e inocentes, impunemente)... e eu pergunto: e quanto aos filhos da classe média que traficam, que roubam e que matam? Aqui o discurso muda, não é verdade? A ladainha é que 'fulano deveria tá passando por um mal momento' ou 'ah, mas ele estava depressivo', etc... etc... os filhos da classe média, na mente daqueles que bradam o discurso de que 'bandido bom é bandido morto' não se encaixam nesse perfil.. sempre haverá uma desculpa para aqueles que cometem crimes e delitos que são oriundos de classes de cariz mais dominante... punição severa e morte apenas para os filhos da pobreza... apenas para os favelados... apenas para o pretos... apenas para os 'cheira cola dos sinais'... O meu país, para minha tristeza, é o país no mundo que mais mata LGBTQs, mulheres e jovens negros... e isso diz muito de nós, infelizmente... se atualmente, no Brasil, já se mata tanto mesmo com o porte de arma sendo ilegal, o que vocês acham que irá acontecer se pudermos ir numa loja da esquina e comprar a nossa própria 'arma de estimação'?!? Muitos falam 'ah! mas nos EUA o porte de arma é legal em alguns Estados'... pois é, não é? E vocês lembram a quantidade de tragédias que aconteceram em escoas e Universidades por conta da facilidade  em se ter armas? Já pensaram que um colega de classe do seu filho pode sofre bullying na escola, se revoltar e pegar a arma do pai um dia, chegar à escola e matar todo mundo, incluindo o seu filho? E aí, como seria? E aqui, mais uma vez, vejo aquela máxima de que 'o filho do outro merece' 'eu tenho equilíbrio emocional para andar armado o outro é que não tem'... é o velho discurso de que eu sou 'perfeito'... quando na verdade o que eu quero mesmo é poder me armar para intimidar aqueles que me desagradam e resolver todas as minhas questões com a violência institucionalizada.

Comecei esse texto com uma citação de um livro psicografado pelo Chico Xavier e por isso, algo que eu não poderia deixar de mencionar, o fato de tantos 'cristãos' tentarem justificar através da Bíblia o discurso de violência e descriminação que seu candidato apregoa. Primeiro, o mais interessante é vê-los ir buscar a justificação no Antigo Testamento, sendo que o fundamento do Cristianismo é o Novo Testamento. O Cristo diz que não vem 'destruir a Lei'... e qual foi a Lei máxima que ele nos ensinou: Amar a Deus sobre todas as coisas, o primeiro mandamento; Amar o próximo como a si mesmo, o segundo. Para Jesus, Deus é o supremo amor que rege o Universo. O Deus de Moisés era um Deus humanizado, vingativo e violento, porque naquela época era essa a imagem da divindade compreendida pelo povo hebraico. Jesus veio para revolucionar as vidas, as sociedades, as famílias e as instituições; Ele foi o primeiro a bramir a palavra AMOR. Numa sociedade de homens endurecidos, onde a mulher era apenas mais um objeto de mobília doméstica, Jesus nos clamava a amar, amar sem medidas, amar a tudo e a todos; Jesus não se fez acompanhar de ricos, nem de poderosos... na verdade, Jesus se fez acompanhar de pobres, de pescadores e tecelãs, de leprosos, de mulheres equivocadas no vício moral da sexolatria, de homens com vício morais profundos, daqueles que eram vistos como os 'invisíveis do caminho'... Jesus nos ensinou com Sua vida que todos merecem uma segunda chance, todos são passíveis de cometer erros e por isso merecedores de perdão; que não importa o charco em que estejamos mergulhados, através do amor haverá sempre uma possibilidade de melhoria e redenção.

Ele veio nos ensinar que não importava a nossa condição social, a cor de nossa pele, os nossos erros... o importante mesmo era o nosso comprometimento íntimo em fazer a nossa reforma moral, em diluir nossos defeitos e nos melhorar enquanto seres humanos agindo no bem, amando e perdoando sempre. Então, pergunto-me: como pode alguém que se intitula 'cristão' compactuar com discurso de violência, de preconceito de ódio contra a alteridade? Para mim, os que propagam e apoiam esse discurso, verdadeiramente não conhecem as premissas cristãs e ainda se encontram na infância espiritual, mais conectados com o falso cristianismo propagado pelos inquisidores e alguns cruzados do que pelo cristianismo real vivenciado e exemplificado pelo próprio Jesus. Lembrem-se que o Cristo disse: 'Não se pode servir a Deus e a Mamon'... e que deveríamos 'Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus'... ou seja, não podemos servir a Deus e suas leis espirituais que regem o universo e ao mesmo tempo servir a nossos interesses sombrios de materialidade... Deus não compactua com a injustiça nem com a maldade, pois Ele é justo e bom.. Jesus não pregou o ódio mas o amor abnegado a tudo e a todos... então, talvez vocês estejam fascinados por um Falso Cristo, porque discurso de ódio e de violência não corresponde aos ensinamentos cristãos.


Por fim, termino esse texto dizendo que se o seu problema é o PT, você tem mais outros 11 candidatos em quem votar no dia 07/10. E não, eu não sou PTista e apesar de ter votado no Lula, acredito verdadeiramente que o PT precisa rever seus erros e consertar-se enquanto partido político, pois caiu nas velhas práxis da política brasileira e deixou de ser oposição para se tornar o mais do mesmo.. por isso, nessas eleições não votarei no candidato PTista, apesar de reconhecer as conquistas sociais dos seus governos, sei que também houveram muitos equívocos e por isso, nessas eleições o Haddad não terá meu voto. Então... como dizia no começo desse parágrafo, há mais outros 11 candidatos em quem você poderá depositar o poder do seu voto no dia 07/10, mas, se você insiste em votar no JB, então seu problema não é o PT, seu problema é que você não consegue mais sufocar dentro de si mesmo suas sombras e suas posições intolerantes, violentas, preconceituosas, homofóbicas, racistas e misóginas... mas, mesmo assim, quero te dizer que não deixarei de te amar por conta disso, nem tampouco desfarei a nossa amizade (seja nas redes sociais ou no dia a dia)... sabe porque? Porque aprendi com a vida que quando pensamos que alguém não merece nosso amor e nosso perdão pelas sombras que carrega em seu íntimo; por conta das dores inomináveis que trazem em suas almas e os fazem cometer equívocos impensáveis, pelo orgulho excessivo que demonstram ao não conseguirem dialogar sem nos ofender ou nos agredir; estamos equivocados! Pois, devemos amar e perdoar muito essas pessoas que por 'n' motivos se distanciaram daquilo que deveriam ser ou se distanciaram da ilusão que tínhamos acerca de quem elas seriam... a sombra precisa de luz para poder se renovar e todos aqueles que pregam discursos recheados por violência e intolerâncias PRECISAM do nosso amor e do nosso perdão, pois o AMOR é o maior transformador de vidas e realidades e, nós, que muito amamos não podemos deixar nosso amor restrito apenas a uns poucos... afinal, Deus que é a energia de AMOR universal, faz com que o sol nasça para os bons e para os maus... então, que tal nós também espalharmos o nosso AMOR aos quatro ventos e ao invés de rebater a violência com mais violência não a retribuímos com essa energia amorosa que trazemos dentro de nossas almas?



#ELENAO #ELENUNCA #ELEJAMAIS

















  

sábado, 18 de junho de 2016

Estrada Nova




Essa semana, li um texto que falava sobre a arte de ir embora. Já reparou, Lola, como é difícil ir embora? É difícil abrir mão de lugares, pessoas, sentimentos... é difícil abrir mão de quem éramos para abraçarmos quem seremos... aceitar o novo, o surpreendente, a mudança é algo que todo e qualquer ser humano tem medo, reluta em fazer.

Não é impossível, Lola... o problema é que todos nós ficamos muito confortáveis com as coisas conhecidas... se permitir ir embora é se entregar ao desconhecido... é permitir que o amanhã te surpreenda... é acreditar que não se tem controle sobre a própria vida... deixa só eu contar um segredo para vocês: nós não controlamos nada! Apenas temos a ilusória sensação de controle... mas o controle que nossa mente cria para nos confortar é exatamente isso: ilusão... não é real...

Nossa mente, Lola, nessa questão de ir embora (e em quase todas as questões de nossas vidas) é nossa pior inimiga... porque ela cria cenários... possibilidades... esperanças... mas, quando olhamos de verdade para nós e para o que nos rodeia, percebemos que todas essas construções mentais nascem de nosso apego... das ilusões que construímos sobre nós e sobre os outros... é quando percebemos que muitas vezes não estamos vivendo na realidade, mas no sonho... e viver no sonho é algo árido por ser infecundo e irreal... é preciso ir embora... desapegar... ter coragem... arriscar fluir e viver fora do sonho... o sonho, Lola, é nossa zona de conforto... é o lugar onde tudo dará certo, de uma forma ou outra dará certo... o sonho nos tolhe de perceber os arredores e de ver que a vida é maior, mais bonita e mais simples quando nos despimos do sonho e damos o primeiro passo para o real, o tempo presente... o aqui e agora, único tempo real....

Oswaldo Montenegro tem uma música muito bonita e que trata exatamente dessa questão do ir embora... a música se chama 'Estrada Nova'... ela começa assim...

"Eu conheço o medo de ir embora; não saber o que fazer com a mão; gritar para o mundo e saber; que o mundo não presta atenção"... como eu disse antes, ir embora dá um medo da gota serena... porque ao começarmos esse processo de ir embora ficamos perdidos, sem saber bem o que fazer ou como agir... e percebemos que esse processo de ir embora é nosso, apenas nós podemos fazê-lo, vivê-lo, senti-lo... ninguém mais irá compartilhar isso conosco (o mundo não presta atenção)... ir embora é um processo pessoal de cada um... esse abraçar a mudança é pessoal e intransferível...

"Eu conheço o medo de ir embora; embora não pareça, a dor vai passar; lembra se puder; se não der, esqueça; de algum jeito vai passar..." a arte de ir embora dói... e ir embora dói porque somos humanos e como seres humanos criamos expectativas, apego, ilusões... nos apegamos a lugares, a hábitos, a pessoas, sentimentos... dói nos permitir mudar.. dói deixar-nos ir... dói deixar o outro ir... dói abrir mão dos hábitos e sentimentos... dói abraçar a mudança... é o processo de se permitir ver o novo sol que começa a surgir no final da curva... é a dor do futuro incerto e desconhecido... e por isso tentamos lembrar de tudo aquilo que tínhamos ou temos antes de ir embora... mas é hora de esquecer tudo isso... por mais que doa... porque, a dor vai passar e a vida poderá então fluir...

"O sol já nasceu na estrada nova; e mesmo que eu impeça, ele vai brilhar; [...] eu conheço o medo de ir embora; o futuro agarra a sua mão; será que é o trem que passou; ou passou quem fica na estação?; eu conheço o medo de ir embora; e nada que interessa se pode guardar"...  o sol já nasceu na estrada nova... é isso, Lola... a
arte de ir embora é difícil e dolorida porque somos teimosos demais e medrosos demais em abrir mão do necessário para podermos viver uma vida real e plena... mas, o futuro, qual estrada nova se descortina a nossa frente e chega para todos nós... mesmo que tentemos impedir esse sol que chega... mesmo assim, ele irá brilhar... porque esse é o movimento da vida... a vida nos compele a fluir com ela e a viver o novo... a sermos o novo... o ir embora é apenas o sair do lugar? ou o ir embora é também, e principalmente, ficar no lugar mais sair de si mesmo? é o trem que vai ou a pessoa que fica? eu acredito que o processo de ir embora se dá nesses dois universos...ser o trem que vai para outro lugar é difícil, mas é um movimento mais fácil... agora, ser o alguém que fica e vai embora de si mesmo... aí, Lola, está o movimento mais difícil... tentamos dar significados ao que interessa e percebemos que nada daquilo que interessava poderá ser guardado... porque nós fomos embora de nós e antes o que era muito importante passa a ter menos importância... se modifica... se transforma... porque agora, nesse momento em que estamos indo embora de nós, as coisas novas surgem e ganham brilho insuspeito... ocupam lugares novos que antes eram vividos por interesses antigos...

Todos nós, em algum momento de nossas vidas, conheceremos o medo de ir embora. O meu conselho, Lola, é que mesmo com medo, mesmo que doa, mesmo que queiramos impedir que o sol brilhe numa estrada nova, mesmo assim, sigamos adiante. Partamos! Ousemos ir embora do nosso ‘antigo eu’, de sentimentos que não existiram de forma plena, de hábitos que já não nos servem. Assim, ao irmos embora, estaremos permitindo que o novo surja em toda sua plenitude… partamos dos lugares em nós que não mais nos representam… abracemos a mudança, mesmo com medo…  e, desta forma, estaremos vivendo sempre o tempo presente, deixando o sol do amanhã nos surpreender!!